Mercado de Café: Futuros Caem com Clima Favorável no Brasil, mas Preço ao Consumidor Dispara

O mercado de café apresenta um cenário de contrastes neste início de setembro. Enquanto os preços nos mercados futuros internacionais registram fortes quedas devido a fatores climáticos e cambiais, o consumidor brasileiro enfrenta uma nova onda de aumentos nos preços dos produtos nas gôndolas dos supermercados.

Queda nos Mercados Futuros

O mês de setembro começou com uma tendência de baixa para os contratos futuros do café, após os preços atingirem máximas de vários meses na última semana de agosto. Na segunda-feira, 1º de setembro, enquanto a bolsa de Nova York estava fechada devido ao feriado do Dia do Trabalho, a bolsa de Londres fechou em forte queda de 3,9%, cotada a US$ 4.628 por tonelada.

A desvalorização continuou na terça-feira, 2 de setembro. Na reabertura do mercado, o contrato do café Arábica na ICE, com entrega para dezembro, sofreu perdas significativas, fechando com uma baixa de mais de 4%, a 370,35 centavos de dólar por libra-peso. Em Londres, a queda foi ainda mais acentuada, com o contrato do café Robusta para novembro perdendo quase 5% e encerrando o dia a US$ 4.399 por tonelada.

Fatores da Baixa: Clima e Câmbio

Dois fatores principais pressionaram os preços para baixo. A melhora nas condições climáticas no Brasil, com a chegada de chuvas acima da média em Minas Gerais poucas semanas antes do período crucial da florada da nova safra de Arábica, trouxe otimismo ao mercado e acelerou a liquidação de posições compradas.

Além disso, a desvalorização do real brasileiro, que atingiu seu menor nível em uma semana e meia frente ao dólar, também contribuiu para a tendência de queda, tornando as exportações brasileiras mais baratas e, portanto, mais competitivas no mercado global.

Posicionamento dos Investidores e Desafios Logísticos

Apesar da queda recente, os dados do relatório de Compromisso dos Negociantes (Commitment of Traders) mostram que os grandes investidores ainda mantêm uma visão otimista. Na semana encerrada em 26 de agosto, os fundos especulativos aumentaram suas posições compradas líquidas em café Arábica em 5,23%, e os fundos de dinheiro gerenciado elevaram sua aposta na alta em 17,02%.

Enquanto isso, a colheita no Brasil se aproxima do fim. A Cooxupé, maior cooperativa e exportadora de café do país, estima que 94,9% da safra de seus membros já havia sido colhida até 29 de agosto. No entanto, o setor enfrenta gargalos: segundo estimativa do Cecafé, problemas de infraestrutura nos portos brasileiros impediram o embarque de 508.732 sacas de café em julho, gerando uma perda de faturamento de R$ 1,084 bilhão (US$ 196,05 milhões).

Aumento de Preços no Varejo Brasileiro

Em um movimento que contrasta com a queda recente dos futuros, as principais torrefadoras do Brasil, como 3 Corações e Melitta, anunciaram novos reajustes de preços para os consumidores. A 3 Corações informou um aumento de 10% para o café torrado e moído e de 7% para o café solúvel a partir de 1º de setembro. Já a Melitta aplicou um reajuste de 15% na mesma data.

As empresas justificam os aumentos com base na alta acumulada do custo do grão cru, na volatilidade do mercado e em questões climáticas que afetaram safras anteriores. Os preços globais do grão arábica cru subiram mais de 20% este ano, após um salto de 70% no ano passado, devido a uma safra brasileira mais fraca impactada pelo clima adverso. O custo da matéria-prima representa, em média, 40% do preço de atacado do café, pressionando toda a cadeia produtiva.

Impacto no Consumidor e Contexto

Este não é o primeiro aumento do ano. A 3 Corações já havia reajustado seus preços em 14,3% em março, enquanto a Melitta aplicou um aumento de 25% em dezembro do ano anterior. Embora tenha havido uma breve queda nos preços ao consumidor em agosto, a Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC) já previa uma reversão da tendência.

Agora, as torrefadoras cedem sob a pressão dos custos crescentes, enquanto os consumidores, com o orçamento apertado, reagem aos aumentos procurando por promoções ou migrando para marcas próprias de supermercados, em uma tentativa de aliviar o impacto no bolso.