O setor cafeeiro brasileiro vive um período de incertezas e transformações. Enquanto uma nova tarifa imposta pelos Estados Unidos ameaça as exportações, o mercado interno registra uma queda nos preços pela primeira vez em 18 meses, e novas portas se abrem no comércio com a China, redefinindo o cenário global para o produto.
Impacto das Tarifas Americanas nas Exportações
A indústria de café dos Estados Unidos adotou uma postura de espera após a implementação de uma tarifa de 50% sobre todas as importações provenientes do Brasil. A medida, estabelecida por uma ordem executiva do governo do presidente Donald Trump, classifica as “políticas, práticas e ações recentes do Governo do Brasil” como uma “ameaça extraordinária” aos interesses americanos.
Segundo Marcio Cândido Ferreira, presidente do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), os compradores de café nos EUA estão solicitando o adiamento dos embarques. A esperança é que as negociações sobre as tarifas resultem em um acordo mais favorável. “Eles possuem estoques para 30 a 60 dias, o que lhes dá uma margem de manobra para aguardar um pouco mais o desenrolar das negociações”, explicou Ferreira à Reuters.
Pressão Financeira sobre os Exportadores Brasileiros
Apesar da flexibilidade dos compradores americanos, o adiamento contínuo das remessas pode gerar um impacto negativo significativo para os exportadores brasileiros, especialmente aqueles que dependem de Adiantamentos sobre Contratos de Câmbio (ACCs) para financiar a pré-exportação.
“Com os atrasos nos negócios, um ACC não é cumprido, e começamos a sofrer com mais juros, taxas elevadas e custos adicionais”, alerta Ferreira. “Adiar os embarques tem esse impacto negativo cumulativo e acentuado.”
Expansão para o Mercado Chinês
Em um movimento que contrasta com as barreiras americanas, o Brasil fortalece seus laços comerciais com a China. Coincidindo com a imposição das tarifas dos EUA em 6 de agosto, mais de 180 novas empresas brasileiras de café foram aprovadas para exportar seus produtos para o gigante asiático, conforme informado pela Embaixada da China no Brasil. A certificação para exportação será válida por cinco anos, solidificando a relação comercial do Brasil com o bloco BRICS, que inclui Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Etiópia, Indonésia, Irã e Emirados Árabes Unidos.
Queda de Preços para o Consumidor no Brasil
No cenário doméstico, o preço do café para o consumidor registrou sua primeira queda em 18 meses. De acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o valor do café moído caiu 1,01% em julho. Nos últimos dezoito meses, o produto havia sido um dos principais impulsionadores da inflação no país.
Essa redução no varejo acompanha a queda nos preços pagos aos produtores após a colheita da safra de 2025. As recentes flutuações nos mercados globais também foram alimentadas pela decisão dos EUA de taxar os produtos brasileiros, o que na semana passada fez os contratos futuros de café em Nova York dispararem 8% em meio a preocupações de investidores sobre a interrupção do comércio entre o maior produtor e o maior consumidor mundial.
Fernando Gonçalves, gerente no IBGE, pondera que ainda é cedo para afirmar se a alta tarifária americana poderia levar a preços mais baixos de produtos básicos como o café. “Pode ser um efeito do aumento da oferta, e não é possível dizer ou confirmar que esteja relacionado à alta da tarifa. A tarifa só começou a vigorar este mês”, explicou.