Enquanto a plataforma de transporte define regras claras para seus motoristas parceiros, uma nova iniciativa paga a esses mesmos motoristas para treinar sistemas de inteligência artificial, levantando debates sobre o futuro do trabalho.
Os requisitos atuais para motoristas
A Uber revolucionou o transporte urbano ao conectar passageiros e motoristas particulares através de seu aplicativo. Para garantir a segurança e a qualidade do serviço, a plataforma exige que os candidatos atendam a critérios específicos antes de poderem começar a dirigir.
Geralmente, é preciso ter no mínimo 21 anos e possuir uma Carteira Nacional de Habilitação (CNH) válida, frequentemente com a observação de que exerce atividade remunerada (EAR) e, em muitos casos, com pelo menos um ano de experiência de direção.
Um dos passos cruciais é a verificação de antecedentes criminais. A empresa realiza uma análise minuciosa do histórico dos candidatos para assegurar a segurança dos passageiros, sendo um histórico limpo fundamental para a aprovação.
O veículo também deve atender às especificações de modelo e ano estabelecidas pela Uber, que variam conforme a cidade. Além disso, o carro precisa estar em boas condições mecânicas, passar por uma inspeção de segurança e estar devidamente registrado. O motorista deve possuir um seguro de responsabilidade civil válido, que cubra danos a terceiros e passageiros durante as viagens.
O processo de entrada é concluído com a inscrição na plataforma, fornecendo dados pessoais e do veículo, e, por vezes, a conclusão de um treinamento online sobre as políticas e procedimentos da empresa.
A nova “Tarefa Digital”: Motoristas treinando a IA
No entanto, enquanto os motoristas atuais se concentram nesses requisitos, a Uber está experimentando uma nova e controversa iniciativa paralela. A inteligência artificial (IA) está remodelando rapidamente diversas indústrias, e a Uber vê nela um caminho para aumentar a eficiência e aprimorar a experiência do cliente.
Essa evolução tecnológica, contudo, gera tensão, especialmente entre trabalhadores que temem ser substituídos. Agora, a Uber eleva essa tensão ao pagar seus motoristas para ajudar a treinar os sistemas de IA que podem, eventualmente, tomar seus lugares.
A empresa introduziu as “Tarefas Digitais” (Digital Tasks), um programa do seu Grupo de Soluções de IA. Ele oferece aos motoristas parceiros a chance de ganhar um dinheiro extra realizando pequenas tarefas pelo aplicativo durante o tempo ocioso.
Essas tarefas incluem gravações de voz curtas no idioma com o qual o motorista se sente mais confortável, o envio de documentos escritos em diferentes idiomas e o upload de imagens específicas.
“A Uber conecta você a empresas que precisam de pessoas reais para ajudar a melhorar sua tecnologia”, explicou a empresa no anúncio. “Ao completar pequenas tarefas digitais em diferentes idiomas e tópicos, você ajudará a tornar seus produtos mais inteligentes – enquanto ganha um extra através do aplicativo Uber.”
A participação é voluntária; apenas motoristas que optarem por participar (opt-in) serão elegíveis. Os convites são enviados pelo “Opportunity Center” do aplicativo, mas a oferta de tarefas dependerá da demanda do cliente. Os motoristas podem visualizar o tempo estimado e os ganhos de cada tarefa antes de aceitá-la, com o pagamento prometido dentro de 24 horas após a conclusão.
O temor da substituição e o mercado de trabalho
Embora a Uber não tenha afirmado explicitamente que suas ferramentas de IA substituirão funcionários humanos, o receio sobre as implicações mais amplas da IA no local de trabalho é palpável.
O atual cenário de desaceleração do mercado de trabalho apresenta outro desafio. Nos Estados Unidos, por exemplo, o Bureau of Labor Statistics (Secretaria de Estatísticas Trabalhistas) relatou que 911.000 empregos a menos do que o esperado foram criados nos 12 meses até março de 2025. Apenas em agosto, foram adicionadas 22.000 novas vagas (excluindo o setor agrícola), e a taxa de desemprego subiu para 4,3%, o nível mais alto em quase quatro anos.
Apesar dessas preocupações, as empresas não mostram sinais de desacelerar o uso da IA para melhorar seus negócios. De acordo com a McKinsey & Company, 92% das empresas planejam aumentar seus investimentos em IA nos próximos três anos.
O debate sobre a regulamentação
Especialistas estão divididos sobre como lidar com o rápido crescimento da IA. Alguns, como o cofundador da Microsoft, Bill Gates, argumentam que a regulamentação é a chave para manter essas inovações seguras.
“Logo após os primeiros automóveis estarem na estrada, houve o primeiro acidente de carro. Mas não proibimos os carros – adotamos limites de velocidade, padrões de segurança, requisitos de licenciamento, leis contra dirigir alcoolizado e outras regras de trânsito”, comparou Gates.